O sucesso logrado por alguém na vida pessoal, profissional ou corporativa, não raro, produz reações ambíguas. De um lado, admiração, respeito e cooperação daqueles que reconhecem o valor de quem realiza; de outro, inveja, ódio e hostilidade. Essa dualidade de reflexos tem razões neurológicas: as áreas do cérebro ligadas à recompensa, como o estriado ventral, são ativadas quando vemos alguém prosperar ou fracassar. É por isso que, quando alguém se destaca, com frequência, ele se torna alvo de críticas, maledicências e até sabotagem.
A inveja, nesse contexto, não é somente um sentimento moral, mas um mecanismo social de nivelamento que, ainda que por via transversa, busca reduzir diferenças dentro do grupo. A aspereza da vida também é real. Desde a pré-história, para sobreviver, o homem dependeu de sua capacidade de reagir, lutar e de se adaptar. Por isso o cérebro humano desenvolveu a amígdala como sistema de alerta, para garantir respostas rápidas ao perigo. Portanto a ideia de que "o mundo não perdoa os fracos" tem fundamento na evolução humana.
Embora hoje em dia já não tenhamos de lutar contra predadores físicos, a competição social exige resiliência. A neurociência - como a psicologia - ressalta que força emocional e autonomia são essenciais no enfrentamento de riscos e incertezas. Pode parecer insano, mas as relações sociais também são vítimas do interesse escuso. É comum o cérebro criar laços de "amizades" em troca de benefícios, como apoio emocional, vantagens e status. Quando eles desaparecem, as tais "amizades" sucumbem, revelando a face nefasta das relações humanas.
Isso não significa que não haja afetos verdadeiros. Existem, o que é muito bom. Mas deixa claro que parte dos afetos é dissimulada; ela só acontece em troca de vantagens. A vida em comunidade, em especial nos meios corporativos, revela facetas de que ninguém está livre. Porém, em honra à pacífica convivência, insistimos em ignorá-las. O falso afeto, no entanto, pode reagir com inconsequência - e até com violência - quando o sentimento de exclusão, que quase sempre se pauta pela inveja e pela incapacidade, se torna assaz insuportável.
O dinheiro também exerce papel relevante no comportamento humano. Quem não o tem, pode se sentir infeliz por não usufruir dos bens materiais que deseja. Quem dele dispõem em abundância, embora não possa comprar afeto, pode conseguir segurança, liberdade e experiências gratificantes. A estabilidade financeira reduz a atividade do córtex pré-frontal, ligado ao estresse. Isso minimiza ansiedades, mas não elimina dores existenciais. Assim tanto a carência como a abundância de recursos podem levar ao cometimento de inusitados desatinos.
Enfim, há verdades que doem na alma, refletindo as duras realidades da convivência humana. Inveja, egoísmo, frieza e competição são parte do repertório social moldado pela evolução. A neurociência ensina que tais idiossincrasias não surgem ao acaso; são estratégias inconscientes do cérebro de quem não se conforma com o próprio status. Reconhecê-las é essencial não para aceitar o cinismo como regra absoluta, mas para aprender a agir com mais consciência. O grande desafio da humanidade é equilibrar-se entre a autopreservação e a empatia!
João Teodoro da Silva
Presidente Sistema Cofeci-Creci
(Neurocientista Comportamental)